Ăxodo 29 descreve a cerimônia de consagração dos sacerdotes no contexto do Antigo Testamento. O estudo bĂblico de Ăxodo 29 é importante, pois além de este capĂtulo descrever os padrões para a santidade e as funções sacerdotais na Antiga Aliança, também serve como uma representação da mediação e do sacrifĂcio que encontram seu cumprimento final no contexto da Nova Aliança em Cristo Jesus.
Para entendermos corretamente o significado de Ăxodo 29, precisamos considerar o contexto geral do livro de Ăxodo. É preciso saber que Ăxodo não é apenas um livro sobre libertação, mas também sobre a formação de uma nação sob Deus. Após a saĂda dramĂĄtica do Egito, Israel precisava de uma estrutura para manter sua identidade e santidade. Então, no Monte Sinai, Deus propôs uma aliança com os filhos de Israel. Nesse sentido, a consagração dos sacerdotes seria parte fundamental dessa aliança, pois eles mediariam entre Deus e o povo.
O esboço de Ăxodo 29 pode ser organizado da seguinte forma:
Ăxodo 29 começa com os passos iniciais de Arão e seus filhos no processo de sua consagração. No texto bĂblico, esta preparação é carregada de simbolismo, refletindo não apenas a santidade exigida para o serviço, mas também a responsabilidade espiritual que os sacerdotes assumiriam (Ăxodo 29:1-3).
Deus ordenou que Arão e seus filhos se lavassem à entrada da Tenda do Encontro (Ăxodo 29:4). Isto indicava a remoção da contaminação ritual, e a purificação de qualquer impureza. Além disso, a escolha de Arão e seus filhos como sacerdotes foi uma iniciativa de Deus, destacando a graça e a soberania divinas na seleção de quem serve em Sua presença.
A escolha divina dos sacerdotes enfatizava que o serviço sacerdotal não era um direito humano, mas um chamado sagrado. Ao serem escolhidos por Deus, os sacerdotes foram investidos de autoridade e legitimidade. Esta escolha também estabeleceu um precedente para a ordem sacerdotal, que se tornou fundamental na manutenção da adoração e das leis em Israel.
Em seguida, Arão e seus filhos foram vestidos com as vestes especiais confeccionadas para o sacerdócio sob a orientação divina (Ăxodo 29:5,6). As vestes sacerdotais foram descritas em Ăxodo 28 e incluĂam o éfode, o peitoral, a tĂșnica tecida, a mitra e o cinto. Cada peça do vestuĂĄrio do sumo sacerdote tinha um significado espiritual e funcional. O peitoral do julgamento, por exemplo, carregava as pedras das tribos de Israel, simbolizando a representação do povo diante de Deus. A mitra e a placa sagrada sobre a testa declaravam a santidade ao Senhor, lembrando os sacerdotes de sua constante necessidade de pureza.
Arão e seus filhos também foram ungidos com o óleo da unção, um ato que simbolizava a consagração, a capacitação e a autorização do EspĂrito Santo para o exercĂcio do serviço divino (Ăxodo 29:7-9). Na teologia bĂblica do Antigo Testamento, o óleo frequentemente aparece como um sĂmbolo da presença e do poder do EspĂrito de Deus na capacitação de alguém para o serviço sagrado.
A segunda seção de Ăxodo 29 registra um primeiro sacrifĂcio envolvendo um novilho, usado para a purificação dos pecados. Arão e seus filhos tiveram de impor as mãos sobre a cabeça do novilho, simbolizando a transferĂȘncia da culpa deles para o animal (Ăxodo 29:10-14; cf. LevĂtico 16:21). Este ato de imposição de mãos não foi meramente simbólico, mas um reconhecimento da necessidade humana de expiação.
O sangue do novilho foi, então, colocado nas pontas e ao redor do altar, significando a santificação do espaço sagrado (Ăxodo 29:12). O sangue, na teologia bĂblica, representa vida e, portanto, era um elemento central na purificação e na reconciliação com Deus nos tempos do Antigo Testamento.
Em seguida, Ăxodo 29 registra o segundo elemento do ritual, envolvendo os dois cordeiros citados no versĂculo 1. O primeiro cordeiro foi sacrificado como uma oferta queimada, simbolizando total dedicação a Deus — um gesto de entrega e obediĂȘncia completa (Ăxodo 29:15-18).
O segundo cordeiro, conhecido como "cordeiro da ordenação", também configurou um elemento crucial na cerimônia de consagração dos primeiros sacerdotes de Israel. O texto bĂblico relata que após Arão e seus filhos terem feito a imposição das mãos sobre a cabeça do cordeiro, ele foi sacrificado. Então, Moisés colocou um pouco do sangue do cordeiro sobre partes do corpo dos sacerdotes (Ăxodo 29:20).
O restante do sangue do cordeiro sacrificado foi derramado ao redor do altar, e em seguida Moisés pegou uma porção desse sangue junto de um pouco do óleo da unção, e aspergiu sobre os sacerdotes e suas vestes (Ăxodo 29:21). Depois, os sacerdotes ofereceram ao Senhor partes do cordeiro, juntamente com uma porção de pães asmos, bolo assado com azeite e pão fino (Ăxodo 29:23-25).
Na sequĂȘncia de Ăxodo 29, o texto bĂblico descreve os procedimentos finais no processo de consagração dos sacerdotes. Ficou estabelecido que uma porção das ofertas deveria ser doada aos sacerdotes, ou seja, foi definido um meio pelo qual os sacerdotes seriam providos, utilizando porções das ofertas trazidas ao Senhor (Ăxodo 29:26-28).
As vestes sagradas de Arão, utilizadas durante a consagração, teriam de ser passadas para seus descendentes que o sucederiam no sacerdócio. Essas vestes deveriam ser usadas por sete dias pelo próximo sacerdote durante seu perĂodo de consagração, ligando as gerações de sacerdotes numa contĂnua tradição de santidade e serviço (Ăxodo 29:29,30).
O Senhor também ordenou que a carne do carneiro da consagração tinha de ser cozida em um lugar santo e consumida pelos sacerdotes. Isto deveria acontecer à porta da Tenda da Congregação. Este ato reiterava que os sacerdotes partilhariam diretamente das coisas consagradas a Deus, sustentando-se do serviço ao divino (Ăxodo 29:31-34).
Arão e seus filhos deveriam permanecer à porta da Tenda da Congregação por sete dias, completando o perĂodo de sua consagração. O texto bĂblico não esclarece de forma especĂfica o que aconteceria em cada um desses dias. Alguns estudiosos acreditam que todo o processo descrito de ordenação durava esse perĂodo completo, enquanto outros sugerem que talvez os rituais fossem repetidos durante os sete dias. Seja como for, durante esse perĂodo o altar também era purificado e santificado, assegurando que fosse um local digno para os encontros entre Deus e seu povo (Ăxodo 29:35-37).
As ofertas diĂĄrias e a presença de Deus (Ăxodo 29:38-46)
A Ășltima seção de Ăxodo 29 registra instruções detalhadas sobre as ofertas diĂĄrias que deveriam ser feitas no altar. Estas ofertas consistiam em sacrifĂcios contĂnuos que foram estabelecidos para ocorrerem diariamente, manhã e tarde, facilitando a comunhão por meio da expiação do pecado, e simbolizando a constante dependĂȘncia de Israel em relação à provisão e graça de Deus.
Duas vezes ao dia, um cordeiro de um ano deveria ser oferecido no altar, uma vez pela manhã e outra ao entardecer. Cada oferta de cordeiro deveria ser acompanhada por uma oferta de cereais feita de flor de farinha misturada com azeite puro, além de uma oferta de bebida de vinho (Ăxodo 29:38-41).
Esses sacrifĂcios eram chamados de "holocausto contĂnuo" e simbolizavam a necessidade constante da expiação do pecado, purificação do povo, entrega incessante e adoração ao Senhor.
Em seguida, o texto bĂblico explica que aqueles holocaustos tinham de ser feitos regularmente à entrada da Tenda do Encontro, de geração em geração. O Senhor também prometeu sua presença contĂnua ao se encontrar com os filhos de Israel naquele mesmo lugar, que consequentemente se tornaria um espaço sagrado pela presença divina (Ăxodo 29:42,43).
Portanto, Deus garantiu consagrar o TabernĂĄculo do Encontro e o altar, juntamente com Arão e seus filhos, para que servissem como sacerdotes. O Senhor também relembrou os filhos de Israel de que os libertou do Egito com o propósito de habitar entre eles (Ăxodo 29:44-46).
Os rituais da ordenação dos sacerdotes descritos em Ăxodo 29, destacavam a necessidade de substituição e expiação dos pecados nos planos divinos. Cada sacrifĂcio apontava para a necessidade de um intermediĂĄrio entre Deus e o homem e, em Ășltima anĂĄlise, prefigurava o sacrifĂcio supremo de Cristo na cruz.
Em Hebreus 9, somos lembrados de que Cristo é o Sumo Sacerdote que não apenas ofereceu sacrifĂcios, mas se ofereceu como o sacrifĂcio perfeito, definitivo e suficiente para a purificação dos nossos pecados. Portanto, o registro bĂblico desses rituais levĂticos nos ajuda a compreender melhor o paralelo entre a função dos sacrifĂcios da Antiga Aliança e a obra consumada de Cristo.
Fonte:https://estiloadoracao.com